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CAROLINA

DESCRIÇÃO

Maria pensa na morte desde muito jovem. Desde uma época em que os pais e toda a família a protegiam do confronto com esse fim, omitindo-lhe o desaparecimento de desconhecidos, justificando-lhe com longas viagens a ausência de pessoas próximas que não mais voltariam. O confronto de Maria com a morte foi o confronto com a ausência. Quando mais velha e adolescente ainda viveu a morte acidental de uma colega de escola, apercebeu-se do desespero dos pais dessa colega, partilhou a amargura de toda uma escola enlutada e aterrorizada. Os jovens da escola deviam ser imortais. A morte da Carolina veio mostrar que não era assim. De novo, o confronto com a morte. Mais duro, mais cruel, mais real. O sufoco, o aperto no peito, os suores, as tonturas até à exaustão ficaram para sempre desde a primeira vez em que Maria pensou em Carolina morta. Já muitas vezes pensara na sua própria morte, agora conhecia o contexto de um acontecimento desses.

É com a inexplicabilidade do além que a Humanidade se debate e é às buscas desesperadas ou institucionalizadas de tais explicações que o Homem entrega a sua espiritualidade. A arrogância humana não se conforma com um “é só isto”, ela exige mais e acredita em mais e faz por mais. Ao mesmo tempo que desenvolve tecnologia para se engrandecer, se fazer valer e ir muito mais além, o Homem desenvolve filosofias para se explicar, para se descansar e para suportar o fim de que o avisaram. No limite, é a morte a causa e não a consequência de todas as guerras, ataques terroristas e ódios. Por não nos conformarmos com a ideia de fim, antecipamos o fim.

Quando é que Maria descobriu que um dia iria morrer? Ela não sabe mas sente que sempre viveu com essa informação. Como se as primeiras palavras da parteira fossem: “Bem vinda à vida, ela tem um prazo. Boa sorte!”

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FICHA TÉCNICA

Autoria e Encenação: Carlos Alves

Interpretação: Ana Campaniço

Luz/ Som: Henrique Moreira 

Apoios: RDS Rádio; Teatro Turim

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NOTAS SOBRE O ESPETÁCULO

Estreou em Novembro de 2016, no Teatro Turim, em Lisboa.

FOTOS

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